terça-feira, fevereiro 28, 2006

Pouca contenção

O meu vizinho do lado, parede meias com a minha parede, soltou agora uns gemidos graves, como de um touro quando é picado, gemidos como de morte, de dor, de agonia, de puro prazer. Logo de seguida um alarido. Uma coisa excessiva. Não são berros, é um grito entrecortado, como de mariachi, como de índio no meio da batalha. Juuuyjuyjuuuuuitutututututujuijui. Acho que celebra, neste momento, a sua ejaculação como um cavalo. Entre mariachi e relincho.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Sabes...

Por vezes sinto esta luta interior na minha mente, no meu cérebro (já te disse que a palavra cérebro é o nome científico da alma?), este fervilhar de ideias que se cruzam entre o amor doméstico e sossegado e o amor louco das palpitações. Já é tempo de procurar o sossego do colo.

Sabes...

Por vezes, o medo do futuro destrói a delícia do presente.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Recuperei um passo mais humano

Voltei a não sentir-me esquisita, excêntrica, um bólide ligada a outros bólides submersos num mundo estranho. O mundo e eu mesma, por uma vez, avançam ao mesmo ritmo, feliz e parcimonioso. Nunca, durante estas longas semanas de calma, tive tantas saudades do vulgar. Sinto-me plena, satisfeita, não tendo que recorrrer às drogas para as dores, à droga musical e dos livros para me evadir da rotina.

Calma Maria, para já vais de boleia, não podes conduzir

Amanhã recomeço o trabalho. As longas semanas com gesso e em casa fechada são agora uma miragem. Sinto falta de avançar devagar no meio do trânsito com uma música que não é lenta. E canto e mexo o pescoço, os braços e as pernas. Dançar sentada é a minha primeira ginástica matinal, quase um exercício para aquecer. Acalmo, a vida compõe-se, a música dá-me uma sensação de alegria, de plenitude, de manhã feliz. Que saudades de conduzir de manhã cedo, a caminho do trabalho. Saio sempre com tanta antecedência que quando estou para chegar, quase posso entregar-me ao desfrute musical ou à pausa contemplativa. A melhor coisa de ir a horas para o emprego é que, dentro da borbulha do meu carro, posso dedicar-me a sentir a música, a não pensar em nada, apenas a sentir a música e ir com ela para aqueles lugares da insensata felicidade aonde o ritmo, a melodia e os acordes nos levam.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Invulgar

Sofria de orgasmos precoces. Era também a única mulher do mundo que não apenas fingia os orgasmos, mas também fingia não os ter.

Sabes...

Nunca foste um lugar fácil de abandonar.

Sabes...

As lembranças vêm à minha memória de maneira caprichosa, sem qualquer ordem. E penso, com receio, no teu lugar dentro dessa ordem. Será que uma redacção completa dessa história ajuda? Acho que não. Não estou interessada no passado, no nosso passado, que aliás cabe nos dedos da mão, ou quanto muito, das mãos.

Sabes...

Amanhã prevê-se frio.
Fazemos uma fogueira? Tu e eu a arder? Desculpa a parvoice mas tenho este maldito hábito de rever o meu corpo junto do teu.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Sabes...

Apetecia-me ouvir as tuas histórias do mundo, a variedade de palavras, observar-te os pormenores corporais enquanto falas.

Sabes...

Apeteces-me tanto nos dias de chuva.

Terra a terra e céu a céu

Sou evasiva. Eu sei. Gosto do hieroglífico e do gesto adivinhatório. Por vezes a minha testa articula-se com uma linguagem muito diferente. Mas sei ser banal, carnal, pouco espiritual, terra a terra, lama a lama e água a água.

Filosofia de clausura

Não escrevo sobre a liberalização das drogas, sobre o aborto, a eutanásia, o castigo físico e a descriminação. Seria uma falsa filósofa, agora que a filosofia não se aprende caminhando e vagueando mas nas universidades. Filosofia de clausura.

Sem rodeios

É tão bom ser impermeável à metafísica. Não gostar de parar muito tempo a reflectir sobre coisa nenhuma, fazer de tudo coisas práticas, vitais, imediatas.

Um tudo nada evasivo

Há quem escreva e fale de forma profunda. Não sei se é por ser profundo que eu o acho obscuro, mas estou tentada a pensar que só por ser obscuro é que parece profundo. Não a mim, claro, a outros. A mim parece-me obscurecido propositadamente, como quem deita breu vivo nas suas palavras para ocultar a sua simplicidade, a sua banalidade, a sua insignificância.

O cálculo do erro

Alguns dias estava mais pensativa do que nunca, pensativa até à medula e até ao desespero. E penso que errei como uma louca pelo mundo, atenta só ao meu corpo.

domingo, fevereiro 19, 2006

Alguém me escreve?

Promete-se o dito choque de dois imaginários que não coincidem.

De volta, por vaidade

Alguma coisa, no meu foro íntimo, disse-me que deveria voltar. Não garanto nenhum pensamento sensato, útil e interessante. Não, agora é um palavreado insensato e, pior ainda, incompreensível.

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