sábado, setembro 30, 2006

Flash

E quando a despiu os mamilos mostraram-se simétricos, o olhar terno, as inchadas mamas apetecíveis e doces. Por detrás daquele corredor de livros, provou-lhe o sabor, mergulhou dois dedos naquele castigo maior, levou à boca e disse-lhe: sabes a noite.

Febril

Apeteceu-lhe o calor, aquela ordem natural das noites de calor, a ventoinha a deixar ouvir o seu ronronar, levantando a aragem artificial, mexendo os cortinados, depois de um transpirar, depois de sair de um corpo, deixando-se cair a um dos lados da cama.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Para ti, o céu

Olho para o meu pai, todos os dias um bocadinho mais doente, como um leão velho e nostálgico, o último do bando, o antes Alfa e hoje Omega, que não há-de voltar a comer. É uma tristeza negra.

terça-feira, setembro 26, 2006

Química cerebral

Embirro com os filósofos. Acho muito mais importante saber o que se descobre nos laboratórios, com os telescópios e microscópios, aceleradores de particulas e simuladores electrónicos. Acho que esses silenciosos cientistas, mais do que os filósofos com o seu palavreado, é que estão a desvendar os segredos mais interessantes de toda a existência, que falam do mundo e lhe tiram um véu após o outro mesmo que, se calhar, não haja esperanças de se chegar alguma vez à verdade crua. Mas isto é só uma ideia. Amanhã posso pensar diferente.

1/2 comprimido para dormir



(nítido, perfeito, como se a realidade copiasse a minha imaginação)

Um nó presente no estômago

Com gritos, que não se sabe se são de gosto se de dor e duas palavras simétricas, como um eco:
Fogo
Quente
Pedro Calapez, 1997
alkyd sobre madeira
(Obrigada Luis)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Eis a ordem inconsciente do corpo: morrer

Morrer. Ter sido testemunha do mundo, espectadora do universo, ter visto rostos e pronunciado nomes e, de repente, nada mesmo nada. A escura noite silenciosa e perpétua. Demasiado pouco para alguém que sonha com muito.

domingo, setembro 24, 2006

Day I forgot

Por vezes, de tanto ouvir o mesmo disco, o seu ouvido entupia-se e já não sabia muito bem onde é que queria chegar, como quando uma pessoa ouve muitas vezes uma palavra e quase já não a distingue, nem sabe o que quer dizer nem onde começa.
Foi então que resolveu mudar de disco, talvés assim mudasse de caminho.

sexta-feira, setembro 22, 2006

1/2 comprimido para dormir

Silêncio e escuridão. Lembrei-me se haveria alguma palavra que designa o momento da noite em que todo o ruído cessa.
By the time I recognize this moment
This moment will be gone (.)

Íntimas partes

Ou talvez o encontrasse assim, lhe falasse assim, com os seus defeitos todos, apenas para elogiá-lo, o derradeiro, e tarde ou cedo acabaria por dizer horrores dele: eu tive um blogue que era o mais frustrado e nele só escrevi porcarias, íntimas partes, aumentadas à lupa.

Flash

Já dormia e acordei. E precisei de alguém. O blogue, é o blogue, esse companheiro tão aperfeiçoado à solidão.

E desaparecia

Atravessar com uma luz muito fraca, até à cave, que fica ao fundo e está muito escura. E assim, na semiescuridão, encontrar uma cabeça de degolada embora falte o sangue.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ao 20 de Agosto

Sem saber muito bem o sentido deste ritual, como quem toma entre as mãos alguma coisa de muito frágil.



Take what you need.

26 de Outubro

Amusement.

Presente!

domingo, setembro 17, 2006

1/2 comprimido para dormir

E dormiu.
(boa noite)

Just keep me where the light is

E só admito paragens e intervalos sem cicatrizes graves, se tocar o Gravity do John Mayer.
Tudo o resto é nulidade.

Auto-retrato

Já eu sou inflexível quanto à razão. Nunca tenho. Acaba por ser um modo de vida.
(a ouvir Peter Yorn, até cuspir tudo o que tenho cá dentro)

sábado, setembro 16, 2006

Da adolescência

Olhou várias vezes para o telefone. Lembrou-se de tantas horas de ansiedade passadas de olhos fixos no aparelho da adolescência. Os telefones eram pretos naquela altura e para marcar era preciso dar voltas a um disco com buracos. Em que altura a existência se tinha transformado em teclas, em sons agudos, electrónicos e já não nessas respirações mecânicas dos telefones de outrora?

sexta-feira, setembro 15, 2006

Flash

Por vaidade, queria que junto dela estivesse um homem excepcional.

Um fim de semana maior

Dia de férias, dia de insuficiência mental.

1/2 comprimido para dormir

E abraçou-o, abraçaram-se, ficaram abraçados imenso tempo, sem desejo nem ânsia, cada vez mais calmos, sem fazerem amor.
Até amanhã.

Flash

Pronta para ir embora, à menor distracção dos presentes, à mais breve ausência dos ausentes.

Flash

Amar, aquilo que chamamos amar (e desculpa usar um verbo assim tão poético) é sobretudo um exercício do pensamento, imaginário, e só em parte esses pulos do corpo e essa troca de suor e células.

Auto-retrato

Não era dona do seu rosto. Quer dizer, era os seus sentimentos e não a sua vontade que governavam a sua cara. Disfarçava mal porque nessa cara tudo transparecia. Uma sucessão de expressões diferentes, com uma grande eloquência de desgraças e de maravilhas sem limite.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Copy/Paste

Exercício interessante, este, lermos o que foi escrito há um ano atrás. E é um orgulho real continuar com o mesmo sentimento, como um missal, eu que nem sequer vou à missa.

A agenda

Ao passar os números de um telefone para o outro pensou em voz alta: Quantas pessoas desapareceram sem terem morrido.

O coração a bater de susto, de gosto

Tinha feito um chapéu de papel, um boné de marinheiro com uma página do jornal. Quando acabou pô-lo e imaginou que tinha acabado de aportar em Istambul, proveniente do Cairo, ou que talvez voltasse de uma longuíssima viagem a HongKong, atravessando mil fronteiras, que era uma aventureira à moda antiga e que regressava cheia de presentes, terços de Meca, areias de Tânger, haxixe de Marrocos e de Istambul, casulos de seda de sei lá onde.
Sedenta de voltar às cidades mais imprevisíveis do Mundo.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Antes da Lua cheia

Nesse domingo, ao chegar a casa, respirou profundamente. Não disse nada. A derrota não a deixava falar. Confortou-se pensando na dignidade que às vezes os derrotados têm e na detestável arrogância que às vezes os vitoriosos demonstram. Confortou-se. Não muito. Mas sim um pouco. Abraçou-se a ela própria. Não queria sentir-se sozinha.

1/2 comprimido para dormir

O sol a ocultar-se, a lua a aparecer, a chuva a cair, a água a evaporar-se e não procurar mais.
Até amanhã.

1/2 comprimido para dormir

Caminhar, caminhar como um nómada, sem rumo, por um caminho de montanha inundado de verde, salpicado de humidade, com esse ar límpido que faz cócegas no nariz, com esses rumores de aves, do vento, que convidam a pensar e a descansar.

Flash

Resolveu dedicar-se a passar a língua, devagar, por todos os centímetros e milímetros da pele dele, pela extensão completa do seu corpo. Curiosamente, ficou imenso tempo nas orelhas e enfiou-lhe a língua até ao tímpano. Ou quase. Umas orelhas pequenas, como de cão chihuahua em crânio de dinamarquês.

O esquecimento é a única vingança e o único perdão

O sexo vingativo não produz prazer mas sim desassossego, atinge o objectivo mas não o prazer e, portanto, a simetria é incompleta. Eu já aprendi vinganças mais subtis, a frieza, por exemplo, e o esquecimento, sobretudo o esquecimento.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Desculpa-me se achas estúpido, eu não presto para falar de coisas sérias.

Porta fechada

Todos temos um quarto escondido, um quarto dos podres, múmias da lembrança. E tudo está até nas paredes.

domingo, setembro 10, 2006

Nada de explicações fáceis

Para ler a olho nu (ou melhor ainda: a olho fechado).

Nada de explicações fáceis

A ler, até à culpa.

Lados opostos

Por um tempo resolveram experimentar um pacto de liberdade mútua: Tu fazes o que quiseres com as tuas partes e eu igual, dissera qualquer um dos dois ou os dois ao mesmo tempo. De tempos a tempos um dos dois não estava em casa, mas fora, e nenhum dos dois sabia onde. Cada um imaginava o pior, embora nenhum dos dois quisesse agora outras experiências; iam ao cinema, visitavam amigos esquecidos, desses que o amor arrasta para um segundo plano. Mas cada um deles, por seu lado, imaginava o pior desses encontros silênciosos, não anunciados nem explicados porque eram livres. Cada um por seu lado se aborrecia, exercendo, cada um, a sua nova liberdade acordada. Já não confiavam um no outro, a confiança desvanecera-se completamente e até ir ao supermercado era um sinal de deslealdade.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Fim de Semana

Tive uma ideia melhor.
A ouvir, em mudez perpétua.
Esta e todas as outras, seguindo-lhes, seduzida, os caminhos.

Fim de Semana

De repente, ficar em casa a ver a Herança não me parece um mau programa.

3:40 sob o efeito da Lua

Resolvi que entraria num mundo que fosse o mais diferente possível, o mais afastado possível, disse adeus a isto e comecei a frequentar aquilo. Eu estou interessada em tudo, em tudo, no leite das vacas, no parto das éguas, nas molduras dos quadros, nos quadros por dentro, no lixo, nas espeluncas sórdidas e em todos os locais onde acabar a noite. Pormenores e mais pormenores imperfeitos, eu que não sou complicada, nem impaciente, nem metódica, sou antes parecida com as pinceladas brutais de qualquer pintor e de gestos simples como o agricultor.

quinta-feira, setembro 07, 2006

A Lua...

Atravesso a casa da cozinha ao quarto sem ligar a luz. A leve claridade da Lua é suficiente para ver o que se passa cá dentro. Tenho o cuidado de não projectar para a frente a minha sombra e avanço colada à parede. Dá a ilusão de não estar ninguém.

Para regular o son(h)o

A ciência, um dia, há-de dar-nos os segredos mais importantes e recôndidos do coração. Será como os programas anti-vírus do computador: fazer o download, ligar o explorer e este verifica todos os arquivos do corpo, tecido por tecido e célula por célula, para detectar os males em formação e resolvê-los de imediato, sem deixar o coração adoecer de amor.

quarta-feira, setembro 06, 2006

A Lua...

Agora que me ensinaste a ver a Lua, sei que até às dez está na janela da sala e apartir da meia noite surge nesta varanda. E é nesse tempo que demora a percorrer a única frente, na qual não a avisto, que não sei de ti.

terça-feira, setembro 05, 2006

Preto & Branco

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Da infância

Na casa onde vivera quase 30 anos resolveu espreitar o quarto. Deitou-se sobre o colchão sem lençois nem colcha, com cheiro a pó, a bafo, a falta de uso. Manteve-se. Quieta. Se calhar temia quebrar o encanto antes do tempo, não deixar as recordações avançarem até às suas últimas consequências.

Flash

E quando acordou, afastou-se dele, como um moribundo se despede da vida, uma criança da sua mãe.

Flash

E encostou a cabeça, tomara que fosse para sempre, sobre o colo dele. Adormeceu, esquecida de tudo.

domingo, setembro 03, 2006

Duas verdades ficaram:

A água do Castelo é melhor que a água das Pedras;
Edwin Mccain nasceu para me encantar.

Vento

E aquilo que eu sonhei grande, como foi diminuto, e tanta e tanta sede para um minuto.

Fecha os olhos, descansa, é muito fácil

Quando subiu aquelas escadas ainda o viu e quando se virou, desfigurada pela tristeza, com os olhos vermelhos, meia morta, sentiu-se velha, feia, sozinha no mundo. Fez a viagem em silêncio, sem se mexer, numa tristeza muito mais profunda que o choro.

Sobre ti

Da minha mente sai um negativo, o negativo da tua cara.

Às voltas com tudo

Esquecer é muito demorado, dura imenso.

Vento

Ligava um pensamento com o seguinte sem poder arrumar as suas ideias. Não estava interessada em desenvolver um raciocínio coerente, um fluxo fiado de argumentos que a levassem a alguma coisa. A razão escapava-lhe, era como se já se tivesse atirado de um trampolim e fosse pelo ar, impossível já de retê-la.

Como se houvesse regressão possível...

sexta-feira, setembro 01, 2006

E desaparecia

Nervosa como um animal no meio do mato, ia-se embora de um local de um momento para o outro, como obedecendo a um palpite.

O proibido

O proibido, como a maça de Eva, pede com os seus cantos de sereia que nos aproximemos.

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