quarta-feira, janeiro 26, 2005

Se

Se pudesse zangava-me. Sacudia o saco da tristeza.
Se pudesse isolava-me. Passava a ser eremita, sem relações íntimas nem ambições.
Se pudesse tornava-me irrascível, sarcástica e impossível de aturar.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Depois de ontem

Continuo consigo entranhado no sangue, na pela, na carne.
Inquieto-me com perguntas violentas.
Repito desejos e segredos.
Agora do mundo só me interessa este quente, sombrio e húmido minúsculo pedaço do meu corpo que se encheu de prazer com a sua boca.
Engula-me por completo.
Venha para dentro da minha alma. Sabe onde fica?

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Crescer não é obrigatório

Qualquer dia tenho 35 anos, e depois 40 e depois vou ter mesmo que fingir que sou uma senhora.
Será que deixo de ter desculpa para os meus erros?
Será que a idade me obriga a certas certezas?
Cresci, mas sou ainda mais sonhadora.
Nunca percebi quando se deixa de ser pequeno para se passar a ser crescido.
Eu sei que nunca serei crescida.
Eu sei que nunca serei crescida enquanto me emocionar com uma música ou com um livro.
Eu sei que nunca serei crescida enquanto comer gelados e algodão doce.
Eu sei que nunca serei crescida enquanto passear de mão dada com o meu pai.
Eu sei que nunca serei crescida enquanto acordar com mimo e com vontade comer corn-flakes na cama.
Eu sei que não sou crescida, nem nunca o vou ser.

domingo, janeiro 23, 2005

Porque hoje estou assim

As tuas palavras sim, são excelentes.
Habita nelas uma singularidade absoluta e inquestionável.
São um chamamento, como se me desses as coordenadas da tua afectividade, do teu aroma.
Estou cativa do teu olhar adivinhado, penetrante, incisivo até à loucura, doce e lânguido.
E despertas-me os sentidos.

Habituei-me à tua presença. De vez em quando invades-me, sabias?
Quase tangível.
Até me apetecia que ficasses, mas sei que tens que partir.
Proponho que deixemos tudo assim.

Viver entre dois Mundos

Vivo entre dois mundos, converto-me na bem disposta e na triste e estou convencida que um deles prevalecerá.
Levei muito tempo a perceber que esta contradição existe.
Às vezes sou assim, exagerada, contraditória, ambígua...outras há que só sou assim-assim.
Um verdadeiro código.

Mulher Espacial

Maria, você é uma mulher especial, disse ele.
Especial?
Naquele momento só quis ser uma mulher espacial, carregar num botão e desaparecer no espaço!
Aparecer noutro local, longe dalí, aparecer no meu canto, debaixo do meu edredon branquinho e adormecer...e se possível, esquecer.
O que aconteceu? perguntou ele.
O que aconteceu é que eu não tenho nada para lhe dar.
Na manhã seguinte foi pior acordar do que se tivesse tido um pesadelo.
Na manhã seguinte houve pouco sol.

Misterioso vizinho

Da minha janela vê-se uma via rápida.
Carros para cá, carros para lá, autênticas formigas.
À noite tudo fica mais calmo. Aparece um, de vez em quando...bem mais lento, sem pressa, julgo.
Para onde irá, pergunto.
Mais acima observo os prédios em frente. As luzes ligadas, é hora do jantar.
Estão todos em casa, já chegaram. Pai, Mãe e filho(s).
As luzes acesas duram até à meia-noite depois apagam-se,vão-se apagando, uma a uma.
Mas fica sempre uma acesa. Sempre a mesma.
É no terceiro andar, a quarta janela a contar da esquerda.
Uma criança com medo do escuro?
Um escritor que se perde nas noites?
Um estudante em tempo de exames?
Às vezes fico acordada só para ver quem desliga a luz primeiro.
Entretanto adormeço.

As minhas primeiras linhas

Era suposto dedicar as primeiras linhas a alguém.
Nos livros passa-se assim:Agradeço a fulano o apoio prestado; agradeço a fulana a disponibilidade demonstrada; ou então assim: dedico à minha Mãe; dedico ao João.
Pois...mas a minha Mãe nem sabe o que é um blog e o João....esse nem sabe quem eu sou.
Sendo assim, as minhas primeiras linhas dedico-as a mim!
Parabéns Maria, finalmente criaste o teu blog.Vou pôr um CD a tocar, a ocasião merece! A minha escolha do momento vai para Alison Moyet...belíssima voz.
Hoje pensei: Hoje seria bom fazer algo fora do comum. A criação do blog pareceu-me a decisão acertada.
Hoje pode ser considerado um dia fora do guião que escrevo todas as manhãs.
Hoje é dia de partilha.

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