segunda-feira, março 28, 2005

Visita à Vidente

Alguma coisa, alguma coisa de intuitivo e obscuro me dizia que as coisas não estavam a correr bem. Não sou supersticiosa, mas acredito nas premonições.
Nesse instante de dúvida e de fraqueza psicológica corri à gaveta da papelada inútil que um dia há-de servir e mexi e remexi até encontrar o bendito cartão da maldita vidente.
Finalmente alguém me iria dizer se estava doida.
Observava-me com um frio cuidado profissional, como um médico concentrado num diagnóstico difícil.
Sem dúvida que queria ouvir a sua voz, deduzir alguma coisa a partir das suas inflexões e vocábulos.
Chegou depressa demais exactamente ao que eu queria ouvir.
É para isso que uma pessoa vai ter com toda a gente: uma amiga, um psicólogo, um psiquiatra, uma bruxa: para ouvir o que quer ouvir, e só paga com gosto quando lhe dizem o que estava à espera de ouvir.
E porque lá foste, Maria? Foste por algum motivo especial?
Há sempre um motivo especial. Vai-se à vidente para não ir ao psiquiatra. Pois é, é mais barato e mais rápido.
Saí de lá a sorrir, depois de ter deixado em cima da mesa, ao pé da chávena com a borra do café, três notas de dez euros.

O que ela me disse, não conto, guardo para mim.

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