terça-feira, maio 16, 2006

Auto-retrato

Maria era uma exagerada, uma pessoa que sabia que só no exagero é que somos capazes de nos percebermos e para exagerar pintava abstractos. Não era pintora de paisagens bucólicas, com rio cristalino, colinas harmoniosas, vacas em claro-escuro, pastor na sesta e casinhas espelhadas na água. Também não gostava de fazer retratos tipo Renascimento, onde parece que é possível tocar a alma da personagem até nos botões do fato. Era rápida e pintava com pinceladas rápidas, sem polir, sem arrependimentos, deixando tudo ficar como saía ao primeiro traço.

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