quarta-feira, outubro 19, 2005

O mais feliz dos cansaços

A certa altura, sempre, de cada vez, nunca falhava, via como ela levava os olhos para o infinito, para o nada, via que já não conseguia ficar ligada às coisas deste mundo, já se ia embora, ia-se embora, pois era absurdo dizer que se vinha quando estava mais longe do que nunca deste mundo, e começava a gemer, a gritar, quase a arrotar palavras e tinha uma mais forte e mais brusca erupção de cola escaldante entre as pernas. Berrava, com a pele toda eriçada, estremecida como num ataque de epilepsia, incapaz de suportar em silêncio e quietude tanta delícia, fora de si, alheada deste mundo, fora do mundo que só podemos visitar por uns segundos. E ele ficava a olhá-la, com maior atenção do que para uma obra de arte.

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