quarta-feira, outubro 12, 2005

Mera racionalidade

Tudo quanto não fosse pensamento científico, investigação, teoremas, técnica, tudo quanto não fosse simbologia lógica e fórmulas exactas, tudo quanto se afastasse de formulações rigorosas, toda a prosa e a poesia do mundo eram para ele parvoíces, divagações vãs, porque a seu ver, a partir do século XX, a ciência desfrutava já do monopólio todo da magia. Tudo, para ele, era susceptível de ser racionalizado, pensado, meditado, nada podia ser deixado à intuição, essa virtude insensata que, na opinião dele, era um terrível vício feminino. Detestava os romances, porque fazia com que as pessoas perdessem tempo, e a poesia porque era uma coisa vaga e sem sentido, e a arte em geral, porque ninguém tinha conseguido explicar-lhe bem a diferença entre Picasso e as burradas pintadas pelo rabo de um burro.
Nunca o conheci bem.
Morreu hoje.
Só.

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