terça-feira, agosto 22, 2006

A pensar, deitada perguiçosamente na cama

Maria abria os olhos e via-o. Olhava-o de olhos bem abertos. Quer dizer, de olhos muito abertos. Aliás, com olhos imensos, arregalados, assustados. No início, na verdade, nem olhava para ele. Nem de olhos abertos nem de olhos fechados. Não o olhava e nem sequer queria recordá-lo ou imaginá-lo. Nunca sonhava com ele, nunca olhava para ele. Mas se calhar este não olhar tornava-se numa foma ainda mais subtil de gostar. A verdade é que nunca saberá a verdade, porque nem ela própria sabe. Ela às vezes pensava que gostava realmente dele, mas que não dava por isso; ou que gostava realmente, sim, mas que não queria mostrar; outras vezes acreditava que não gostava dele, mas porque não o tinha visto bem; outras, ainda, que não gostava dele, mas que depois gostou.
Aliás, que importa, se agora gosta realmente, e se é possível haver amores à primeira vista, então também o é à quinta.
Sim, gosto dele, do Mundo, afinal.

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