quinta-feira, março 02, 2006

Viajando

Tenho usado os transportes públicos, agora que não posso conduzir. Às vezes taxis, para não perder tempo, mas sobretudo autocarros, comboios e metro, para olhar, para variar, para aproveitar, fazendo por prazer o que a maioria das pessoas faz por obrigação. Sinto-me como um político em campanha, daqueles que dizem: "É preciso misturar-se com o povo, camaradas, é preciso misturar-se com o povo para compreender este país." Mas eu até fico contente por me misturar com o povo. Sinto que que aí está, finalmente, uma cidade que eu nunca vira, só de longe, como de um sítio distante. Raparigas de bluza apertada e seios volumosos no autocarro, rapazes com uma maneira de falar que não percebo, auscultadores com música alta, cheiros esquecidos desde os dias de infância, tipos com bigode, sempre com bigode, ao menos 70% com bigode, conforme uma estatística que vou fazendo para me distrair.
Peço ao leitor que não fique mal impressionado com este discurso. Dei-me agora conta que pareço uma extraterrestre, uma boneca da Disneylândia. Não é nada disso. As multidões assustam-me, simplesmente.

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