Aos meus leitores
Numa repentina clareza apercebo-me que nunca dediquei uma linha aos meus leitores. Venho aqui, acrescento exageros à verdade, faço com que as palavras digam muito mais do que eu, depois rasgo, cada pedacinho uma letra, e deito fora. E nem me lembro que alguém possa ler. Os meus leitores. Muito poucos, à custa desta teimosia em manter o bloque quase anónimo, mas intensos. Sim, os meus leitores são intensos. Puxam de mim as palavras e no fundo escuro do crânio provocam-nas.
Gosto quando me escrevem, mesmo que nunca responda. É certo que a minha vontade em responder oscila consoante a proximidade ou afastamento que quero ter, mas isso também as marés.
Tenho uma relação invulgar com a linguagem, é um facto. Mas isso não é grave. O grave é a quantidade de palavras que as pessoas dizem sem serem pensadas ou sentidas. Sobretudo sem serem sentidas. Vão largando palavras, desmedidas, más-línguas, linguarudas, sem pensar muito, sem parar nunca, sem qualquer prudência, sem hesitações, como falam as pessoas que não vivem concentradas em si mesmas, que não ficam fascinadas com as suas próprias palavras, que não gostam de se ouvir mas sim de falar e basta.
Já sei, não respondo porque sou pouco simpática. Mas não me interessa aquela simpatia que se acha tão franca nas primeiras vezes e que depois se transforma numa indiferença definitiva.
Não é vaidade, é falta de jeito estúpido e desastrado.
Gosto de quem me lê com olhos generosos. Obrigada. Adoro quando se senta desse lado e me lê. Vá ficando, é bem-vindo.
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